quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Carta para o Chico Buarque

José Danon


Chico, você foi, é e será sempre meu herói. Pelo que você foi pelo que você é e pelo que creio que continuará sendo. Por isso mesmo, ao ver você declarar que vai votar na Dilma “por falta de opção”, tomei a liberdade de lhe apresentar o que, na opinião do seu mais devoto e incondicional admirador, pode ser uma opção.

Eu também votei no Lula contra o Collor. Tanto pelo que representava o Lula como pelo que representava o Collor. Eu também acreditava no Lula. E até aprendi várias coisas com ele, como citar ditos da mãe. Minha mãe costumava lembrar a piada do bêbado que contava como se tinha machucado tanto. Cambaleante, ele explicava: “Eu vi dois touros e duas árvores, os que eram e os que não eram. Corri e subi na árvore que não era aí veio o touro que era e me pegou.” Acho que nós votamos no Lula que não era aí veio o Lula que era e nos pegou.

Chico,
meu mestre, acho que nós, na nossa idade, fizemos a nossa parte. Se a fizemos bem feita ou mal feita, já é uma outra história. Quando a fizemos, acreditávamos que era a correta. Mas desconfio que nossa geração não foi tão bem-sucedida, afinal. Menos em função dos valores que temos defendido e mais em razão dos resultados que temos obtido. Creio que hoje nossa principal função será a de disseminar a mensagem adequada aos jovens que vão gerenciar o mundo a partir de agora. Eles que façam mais e melhor do que fizemos, principalmente porque o que deixamos para eles não foi grande coisa. Deixamos um governo que tem o cinismo de olimpicamente perdoar os “companheiros que erraram” quando a corrupção é descoberta.

Desculpe, senhor, acho que não entendi. Como é mesmo? Erraram? Ora, Chico. O erro é uma falha acidental, involuntária, uma tentativa frustrada ou malsucedida de acertar. Podemos dizer que errou o Parreira na estratégia de jogo, que erramos nós ao votarmos no Lula, mas não que tenham errado os zésdirceus, os marcosvalérios, os genoinos, dudas, gushikens, waldomiros, delúbios, paloccis, okamottos, adalbertos das cuecas, lulinhas, beneditasdasilva, burattis, professoresluizinhos, silvinhos, joãopaulocunhas, berzoinis, hamiltonlacerdas, lorenzettis, bargas, expeditovelosos, vedoins, freuds e mais uma centena de exemplares dessa espécie tão abundante,desafortunadamente tão preservada do risco de extinção por seu tratador. Esses não erraram. Cometeram crimes. Não são desatentos ou equivocados. São criminosos. Não merecem carinho e consolo, merecem cadeia.

Obviamente, não perguntarei se você se lembra da ditadura militar. Mas perguntarei se você não tem uma sensação de déjà vu nos rompantes de nosso presidente, na prepotência dos companheiros, na irritação com a imprensa quando a notícia não é a favor. Não é exagero, pergunte ao Larry Rother do New York Times, que, a propósito, não havia publicado nenhuma mentira. Nem mesmo o Bush, com sua peculiar e texana soberba, tem ousado ameaçar jornalistas por publicarem o que quer que seja. Pergunte ao Michael Moore. E olhe que, no caso do Bush, fazem mais que simples e despretensiosas alusões aos seus hábitos ou preferências alcoólicas no happy hour do expediente.

Mas devo concordar plenamente com o Lula ao menos numa questão em especial: quando acusa a elite de ameaçá-lo, ele tem razão. Explica o Aurélio Buarque de Hollanda
, seu tio, que elite, do francês élite, significa “o que há de melhor em uma sociedade, minoria prestigiada, constituída pelos indivíduos mais aptos”. Poxa! Na mosca. Ele sabe que seus inimigos são as pessoas do povo mais informadas, com capacidade de análise, com condições de avaliar a eficiência e honestidade de suas ações. E não seria a primeira vez que essa mesma elite faz esse serviço. Essa elite lutou pela independência do Brasil, pela República, pelo fim da ditadura, pelas diretas-já, pela defenestração do Collor e até mesmo para tirar o Lula das grades da ditadura em 1980, onde passou 31 dias. Mas ela é a inimiga de hoje. E eu acho que é justamente aí que nós entramos.

Nós, que neste país tivemos o privilégio de aprender a ler, de comer diariamente, de ter pais dispostos a se sacrificar para que pudéssemos ser capazes de pensar com independência, como é próprio das elites - o que, a propósito, não considero uma ofensa -, não deveríamos deixar como herança para os mais jovens presentes de grego como Lula, Chávez, Evo Morales, Fidel - herói do Lula, que fuzila os insatisfeitos que tentam desesperadamente escapar de sua “democracia”. Nossa herança deveria ser a experiência que acumulamos como justo castigo por admitirmos passivamente ser governados pelo Lula, pelo Chávez, pelo Evo e pelo Fidel, juntamente com a sabedoria de poder fazer dessa experiência um antídoto para esse globalizado veneno. Nossa melhor herança será o sinal que deixaremos para quem vem depois, um claro sinal de que permanentemente apoiaremos a ética e a honestidade e repudiaremos o contrário disto. Da mesma forma que elegemos o bom, destronamos o ruim, mesmo que o bom e o ruim sejam representados pela mesma pessoa em tempos distintos.

Assim como o maior mal que a inflação causa é o da supressão da referência dos parâmetros do valor material das coisas, o maior mal que a impunidade causa é o da perda de referência dos parâmetros de justiça social. Aceitar passivamente a livre ação do desonesto é ser cúmplice do bandido, condenando a vítima a pagar pelo malfeito. Temos opção. A opção é destronar o ruim. Se o oposto será bom, veremos depois. Se o oposto tampouco servir, também o destronaremos. A nossa tolerância zero contra a sacanagem evitará que as passagens importantes de nossa História, nesse sanatório geral, terminem por desbotarem na memória de nossas novas gerações.

Aí, sim, Chico, acho que cada paralelepípedo da velha cidade, no dia 3 de outubro, vai se arrepiar.

Seu admirador número 1,
Zé Danon


José Danon é economista e
consultor de empresas

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Educação??

Li algo interessante aqui!
Pensando um pouco, resolvi falar um pouco sobre educação...

Não quero parecer entusiasmado; nem sectário de coisa alguma, menos ainda fazer eco à frase que diz "... o que é bom vêm lá de fora..."... Mas nesta busca de um ensino-aprendizado de qualidade, acredito que se poderia fazer uma pesquisa de modelos que funcionaram em outros países (e não me restrinjo ao ditos 'países ricos'), uma análise e conseqüente adaptação para nosso contexto cultural daquilo que seria inaplicável em nosso país.

Afinal o Governo Federal soube fazer isto quando resolveu implantar a TV-Digital: pesquisou e escolheu como modelo o implementado no Japão.
A pergunta é: porque não faz a mesma coisa com nosso sistema de ensino e de saúde?? Mas vamos nos ater ao tema do post: Educação!

Sim, existem modelos que - com as justas adequações - poderiam representar um grande avanço em nossa educação.
Isto sem falar que se poderia resgatar uma função sócio-política que existia no antigo 2º grau (que já fora ginásio, científico) e hoje é chamado de 'Ensino Médio': antes da Ditadura - e durante ainda alguns anos após o Golpe - nossas escolas preparavam nossos jovens para o mercado de trabalho (lembram da divisão em áreas [CB; CE; CH]??) e isto era bastante para a grande maioria das empresas em empregos; isso permitia ao jovem uma 'seguança' de saber estar preparado para o mercado, permitindo que somente depois ele julgasse ser necessário (ou não) entrar em uma Universidade. Houveram inclusives laboratórios funcionais! (hoje temos que recorrer à escolas técnicas para termos uma formação profissional externa à Universidades)
Hoje o 'Ensino Médio' não qualifica nem prepara para o mercado de trabalho, tornou-se apenas uma espécie de ''Imenso Cursinho preparatório para a Universidade''.
Não seria hora de investir no aparelhamento e preparação adequados das escolas e dos professores?
FrankJ. Costa


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Viva a lei de Gérson!

Sem resumo

O meio-campista Gérson ficou célebre não apenas por ter sido uma das maiores estrelas do tricampeonato brasileiro em 1970, mas por ter formulado, na propaganda do cigarro Vila Rica veiculada anos depois, aquela que viria a ser conhecida como lei de Gérson: "O importante é levar vantagem em tudo, certo?" - frase dita num carregado sotaque carioca, forçando os erres até o palato ficar encharcado. Gérson tentou por muito tempo se desvencilhar da fama de patrocinador dos espertalhões, patrono dos corruptos e propagandista dos canalhas, mas não teve jeito. A lei de Gérson pegou. Sociólogos, antropólogos e a nata da intelectualidade brasileira já gastaram horas e mais horas, tinta e mais tinta, neurônios e mais neurônios para condenar nossa brasileira condição gersoniana. Somos mesmo uma nação de egoístas, corruptos e sacanas, que só pensam em si e só querem saber de levar vantagem. Certo?

Errado. No fundo, Gérson deveria ter é orgulho. Só a lei de Gérson nos salva nesta era politicamente correta, em que anão virou "verticalmente prejudicado", pobre virou "excluído social", débil mental virou "diferentemente capacitado" e em que nem propaganda de cigarro é mais possível fazer sem pedir desculpas em letras garrafais. O enunciado da lei de Gérson põe a nu a essência do nosso caráter sem pudor: somos um povo que gosta de levar vantagem. E daí? Alguém aí teria orgulho de fazer parte de uma nação de trouxas e otários?

Ninguém aqui vai defender um comportamento antiético ou ilegal com base no enunciado da lei de Gérson. Se ela existe, é em primeiro lugar reflexo da nossa realidade. Veja o caso das nossas empresas. Na hora de dar entrevista e aparecer na mídia, todas querem loas a sua responsabilidade social corporativa e boa cidadania. Na hora de declarar imposto, de desempatar alguma pendenga judicial ou de conseguir autorização para obras, estão todas atrás do primeiro Rocha Mattos de plantão para livrar-lhes a cara, já que, em meio à nossa barafunda legal, a propina é questão de sobrevivência e só ela faz a economia andar.

Parece que o povo brasileiro vive uma tensão entre duas forças. Por fora, a força da imagem. Em público, todos têm de ser como que sacerdotes, com comportamento impecável, retidão moral absoluta, espinha dorsal inflexível. Os políticos corruptos são condenados com virulência, qualquer deslize de executivos tem de ser punido de forma exemplar, damos a nossos filhos a impressão de que a ira divina se abaterá sobre suas menores falhas. Esse sentimento faz a fortuna e a desgraça de prefeitos, governadores e presidentes. Por dentro, porém, irrompe a força de Gérson. Ninguém agüenta essa pressão hipócrita. Todos querem o melhor para si - e que mal há de haver nisso? De posse da menor fímbria de poder, de uma tênue nesga de oportunidade, não raro transgredimos as mesmíssimas regras cuja transgressão acabamos de condenar nos outros. Julgamos, condenamos, enforcamos e esquartejamos Gérson. Mas Gérson somos nós. Eis nosso dilema.

Para que tanta hipocrisia? Nada disso precisa ser assim. A lei de Gérson muito deveria nos honrar. Basta despi-la da hipocrisia para perceber que é a esperteza nacional que faz o Brasil se destacar em meio à mediocridade reinante no planeta politicamente correto, em que tudo tem de ser igual e insosso, em que todos acham que têm direito a tudo, em que a criatividade - e a verdadeira diferença - foram banidas. Na América Latina, os argentinos choram suas tristezas frustradas num tango melancólico, enquanto nós brasileiros damos risadas de nossas sacanagens num alegre sambinha. Qual o problema se podemos ser espertos e felizes? Quem disse que ser esperto é ruim ou necessariamente antiético? Por que ter vergonha disso em vez de usar a esperteza a nosso favor?

O empreendedorismo e a criatividade do brasileiro nada mais são que expressões dessa faceta mais nobre da lei de Gérson. Afinal, empreender não é saber aproveitar oportunidades? Criar não é violar regras estabelecidas e preconcebidas? Tudo isso não é, no fundo, saber levar vantagem? Vamos largar a mão de ser bestas e incorporar com orgulho nosso lado Macunaíma. Vamos dar um basta à histeria politicamente correta que infesta a humanidade e usar nosso próprio antídoto: a boa e velha lei de Gérson. Viva Macunaíma! Viva Gérson! Ziriguidum. Telecoteco. Balacobaco, esquindô, esquindô.

in: http://super.abril.com.br/superarquivo/2004/conteudo_124358.shtml